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05 Ago, 2020

A corrida do ouro no Brasil

Por Kerollan da Silva Ramos | 05 de Agosto de 2020 | Mineração, Ouro, Brasil |

Desde o descobrimento do Brasil, Portugal tinha fé em encontrar uma fortuna escondida em suas terras americanas. Afinal, se os espanhóis haviam sido abençoados com as fortunas advindas dos Astecas, dos Incas e dos Andes (era o que mais havia de rico no mundo no século XVI), especialmente com Potosí (a “montanha de prata”); então para os portugueses havia de estar reservado, por que não um reino lendário com uma “montanha de ouro”. Esse reino, conhecido como Eldorado, jamais seria encontrado. Em contrapartida, algo ainda melhor estava espalhado pelo território brasileiro: aproximadamente mil toneladas de ouro de fácil extração. Um volume até então inédito no mundo. Contudo, mesmo com todas as buscas, esse tesouro levaria quase dois séculos para, enfim, ser descoberto.

Mas, se havia tanto ouro assim, como demorou tanto tempo para descobri-lo? Havia uma série de fatores, sendo destacado aqui dois deles. O primeiro fator era que o Brasil precisava ser, antes, amplamente desbravado. Ainda que, em expedições pelo país se encontrasse áreas de potencial aurífero, era impraticável que se conseguisse realizar pesquisas mineralógicas ou mesmo extração de quantidades maiores de ouro, devido tanto aos perigos (índios e natureza) quanto a impossibilidade de alimentar todos durante períodos muito longos. Coube, especialmente, aos bandeirantes a resolução desse primeiro problema. O segundo fator era que, ao se manterem convictos de que o ouro se apresentaria em formatos extraordinários, os exploradores estavam ignorando toda uma quantidade absurda de ouro, principalmente acumulada em aluviões. Esse problema, por sua vez, só seria solucionado por meio de uma ordem curta expedida por d. Pedro II no dia 18 de março de 1694.

Essa ordem alterava o cerne da legislação mineral portuguesa. Basicamente, a partir da alteração, ficava estabelecido que aquele que descobrisse uma mina rica ficaria com a posse da mesma (anteriormente a mina seria de posse da Coroa), cabendo ao descobridor a única obrigação de pagar o quinto, ou seja, pagar 20% do valor produzido à Coroa.

A partir disso, foi o suficiente para que, como num passe de mágica, começasse a surgir, simultaneamente, diversas minas de ouro no país. Por todos os lados se encontrava ouro, com maior ou menor rendimento. A mineração foi crescendo e, de repente, junto com ela foram surgindo os “pilares” do que mais tarde se tornariam grande parte das cidades e dos estados brasileiros. Direta ou indiretamente, devido a mineração surgiram diversas cidades como, por exemplo, Ouro Preto, Mariana, Sabará, Catas Altas, São João del-Rei, Santa Bárbara e Itaverava; e estados como, por exemplo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Bahia. Na década de 1690, já estava deflagrada a corrida do ouro.

Os números referentes a esse período são impressionantes. Era estimado que, em média, cada homem extraía 200 gramas de ouro por ano. Rapidamente, grande fração da população portuguesa se mudou para o Brasil. Em 60 anos, aproximadamente 600 mil deles trocaram o reino pela colônia. Já em meados do século XVIII, outra façanha alcançada, a colônia se tornara mais importante que a metrópole. Ao longo do período da corrida do ouro, o Brasil triplicou de tamanho, aumentou sua população de não indígenas de 300 mil para 3,5 milhões (20% maior que Portugal) e havia se tornado o maior produtor mundial do metal precioso (em 1745, a produção anual nacional era de aproximadamente 15 toneladas!).

Se por um lado Portugal “precisou” tomar medidas coercitivas (como a derrama) devido a enorme sonegação no pagamento das taxas para a Coroa, em 1702, por exemplo, o quinto rendeu ínfimos 100 g de ouro; por outro lado, ainda assim, Portugal recebia bastante ouro e, por conseguinte, a Europa, em especial, a Inglaterra. Em 1738, por exemplo, estimasse que cerca de 60% de todo o ouro produzido no Brasil foi destinado aos cofres ingleses. Não resta dúvidas de que o ouro brasileiro foi fundamental para estimular (e financiar) pelo menos dois grandes “fenômenos” que estavam surgindo: o Capitalismo e a Revolução Industrial.

Contudo, com pouco mais de um século de lavra predatória e um ritmo de produção frenético, era certo de que o ouro fácil não iria durar para sempre. E não durou. Em meados da década de 1750, a corrida do ouro apresentava seu auge para, em seguida, iniciar seu declínio vertiginoso. Já em 1814, a produção de ouro em Minas Gerais tinha sido de 819 quilos, portanto, longe dos valores superiores a 10 toneladas outrora alcançados durante o auge da corrida do ouro. Logo no início do século XIX, a corrida do ouro no Brasil chegava ao seu fim.

Isso significava que não havia mais ouro em quantidade no país? Absolutamente! Não somente ainda havia ouro no Brasil, como, aliás, havia em maior quantidade do que a totalidade extraída até então. Todavia, a extração desse ouro seria mais difícil, sendo necessário avanços em termos de conhecimentos tais como mineralogia e métodos de lavra. Dentro de alguns anos, os conhecimentos mais técnicos e aprofundados sobre mineração (não somente do ouro) seriam mais amplamente difundidos no país, muito graças a Claude-Henri Gorceix e o surgimento da Escola de Minas de Ouro Preto, fundada em 1876.

A Minera Jr., inclusive, surge com suas raízes na Escola de Minas. Não por acaso essa ligação se reflete no nome da razão social da empresa: Empresa Júnior de Engenharia de Minas da Escola de Minas.

Referência:
FIGUEIREDO, Lucas. Boa ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810): a cobiça que forjou um país, sustentou Portugal e inflamou o mundo. Rio de Janeiro. Record. 2011.